SPLEEN E IDEAL
VI Os Faróis Charles Baudelaire Rubens, rio do olvido, jardim da preguiça, Divã de carne tenra onde amar é proibido, Mas onde a vida aflui e eternamente viça, Como o ar no céu e o mar dentro do mar contido; Da Vinci, espelho tão sombrio quão profundo, Onde anjos cândidos, sorrindo com carinho Submersos em mistério, irradiam-se ao fundo Dos gelos e pinhais que lhes selam o ninho; Rembrandt, triste hospital repleto de lamentos, Por um só crucifixo imenso decorado, Onde a oração é um pranto em meio aos excrementos, E por um sol de inverno súbito cruzado; Miguel Ângelo, espaço ambíguo em que vagueiam Cristos e Hércules, e onde se erguem dos ossários Fantasmas colossais que à tíbia luz se arqueiam E cujos dedos hirtos rasgam seus sudários; Impudências de fauno, iras de boxeador, Tu que de graças aureolaste os desgraçados, Coração orgulhoso, homem fraco e sem dor, Puget, imperador soturno dos forçados; Watteau, um carnaval d