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SPLEEN E IDEAL

VI Os Faróis Charles Baudelaire    Rubens, rio do olvido, jardim da preguiça, Divã de carne tenra onde amar é proibido, Mas onde a vida aflui e eternamente viça, Como o ar no céu e o mar dentro do mar contido; Da Vinci, espelho tão sombrio quão profundo, Onde anjos cândidos, sorrindo com carinho Submersos em mistério, irradiam-se ao fundo Dos gelos e pinhais que lhes selam o ninho; Rembrandt, triste hospital repleto de lamentos, Por um só crucifixo imenso decorado, Onde a oração é um pranto em meio aos excrementos, E por um sol de inverno súbito cruzado; Miguel Ângelo, espaço ambíguo em que vagueiam Cristos e Hércules, e onde se erguem dos ossários Fantasmas colossais que à tíbia luz se arqueiam E cujos dedos hirtos rasgam seus sudários; Impudências de fauno, iras de boxeador, Tu que de graças aureolaste os desgraçados, Coração orgulhoso, homem fraco e sem dor, Puget, imperador soturno dos forçados; Watteau, um carnaval d

SÃO PETERSBURGO

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Noites Brancas Por Lidia Izecson                           Brancas, branquíssimas, assim são as pernas das moças russas nesse verão. Os braços, também brancos, roliços, brigam com as mangas que querem aprisioná-los. Elas andam nas margens do Rio Neva respirando os ares da abertura. Parecem ignorar os muros do século XVIII, as pontes, as igrejas com torres em forma de cebola , os  palácios de verão e inverno, de Pedros, Alexandres, Catarinas.       Ainda estou olhando para elas quando vejo que o relógio da torre marca onze horas. Preciso dormir, penso. A noite chegou, chegou? Procuro, não encontro, onde se escondeu? São noites brancas dizem as moças, brancas como nós, leitosas, transparentes, sem trevas, aparecem entre maio e julho       Intrigada, volto ao hotel sabendo que preciso dormir. Às três e meia da manhã um mistério levanta meus cabelos e abro as janelas pálida de espanto. Ora direis, ouvir estrelas, mas onde as estrelas? Só há luz, claridade e o meu encant

MOSCOU

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MÚSICA

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Foto: Julio Minervino a música deve, em sua nobreza suprema, tornar-se uniforme e agir sobre nós com a calma fruição da arte antiga, as artes plásticas devem,  em seu acabamento supremo,  tornar-se música e nos comover por sua presença sensível imediata, a poesia deve, em seu ponto de desenvolvimento mais perfeito, nos tomar vigorosamente como a música, mas deve ao mesmo tempo, como as artes plásticas, nos cercar de uma atmosfera de tranquila claridade.  F. Schiller

Sobre o silêncio

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Entre duas notas de música existe uma nota, entre dois fatos existe um fato, entre dois grãos de areia, por mais juntos que estejam, existe um intervalo de espaço, existe um sentir que é entre o sentir - nos interstícios da matéria primordial está a linha de mistério e fogo que é a respiração do mundo, e a respiração contínua do mundo é aquilo que ouvimos e chamamos de silêncio Clarice Lispector (compilada em forma de poesia por padre Antonio Damásio) 

No mar

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No mar passa de onda em onda repetido O meu nome fantástico e secreto Que só os anjos do vento reconhecem Quando os encontro e perco de repente. Sophia de Mello Breyner Andresen

Sobre a imaginação

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"O homem é um ser que imagina e a sua razão mesma não é senão uma das formas deste contínuo imaginar. Em sua essência, imaginar é ir mais além de si mesmo, projetar-se, contínuo transcender-se. Ser que imagina porque deseja, o homem é o ser capaz de transformar o universo inteiro em imagem de seu desejo. E por isso é um ser amoroso, sedento de uma presença que é a viva imagem, a encarnação de um sonho. Movido pelo desejo, aspira fundir-se com essa imagem e, por sua vez, converter-se em imagem."                                                                                        Octavio Paz