madeleines
Menos de um mês após o falecimento de minha mãe recebi uma mensagem, por meio de um desses milagres da tecnologia pelos quais estamos todos enfeitiçados atualmente, me convidando para participar de um encontro de amigos e conhecidos do passado.
O período em questão refere-se aos quase dez anos que vivi com minha mãe em Campos do Jordão, entre 1956 e 1967, ano em que concluí o curso ginasial e decidi morar com meu pai em São Paulo, por mais dez anos, até o falecimento dele em 1977.
O contato fez emergir um
turbilhão de memórias, personagens e episódios escondidos nas dobras do tempo.
Fotos com imagens aparentemente esquecidas, guardadas na gaveta da memória, no
armário da nostalgia, como madeleines
de Proust, despertaram minha memória involuntária, evocando sentimentos
ambíguos. Pequenas lembranças, afetos, emergiram com a rapidez de um flashback transformando minha cabeça
numa tela de cinema cuja película, parafraseando Trénet poderia se chamar: “O
que restou daqueles dias felizes?”
O Que Restou do Nosso Amor (1)
Esta noite, o vento que bate na
minha porta
Me fala dos amores mortos
Diante do fogo que está lá fora
Esta noite, é uma canção de Outono
Na casa que estremece
E eu penso nos dias remotos
O que restou dos nossos amores
O que restou daqueles dias felizes
Uma foto, foto antiga
Da minha juventude
O que restou, as cartas de amor
Os meses de abril, dos encontros
Uma memória que me assombra
Sem cessar
A felicidade se desvaneceu, o cabelo voando
Beijos roubados, sonhos à deriva
O que restou de tudo isso
Diga-me
Uma pequena aldeia, um velho clocher
Uma paisagem tão escondidos
E numa nuvem esta visão carinhosa
Do meu passado
As palavras, as palavras que suaves murmuram
Acariciam os mais puros
Juramentos na floresta
As flores encontradas num livro
O perfume de quem te embriaga
Desapareceram por quê?
Me fala dos amores mortos
Diante do fogo que está lá fora
Esta noite, é uma canção de Outono
Na casa que estremece
E eu penso nos dias remotos
O que restou dos nossos amores
O que restou daqueles dias felizes
Uma foto, foto antiga
Da minha juventude
O que restou, as cartas de amor
Os meses de abril, dos encontros
Uma memória que me assombra
Sem cessar
A felicidade se desvaneceu, o cabelo voando
Beijos roubados, sonhos à deriva
O que restou de tudo isso
Diga-me
Uma pequena aldeia, um velho clocher
Uma paisagem tão escondidos
E numa nuvem esta visão carinhosa
Do meu passado
As palavras, as palavras que suaves murmuram
Acariciam os mais puros
Juramentos na floresta
As flores encontradas num livro
O perfume de quem te embriaga
Desapareceram por quê?
Eu me pergunto: Será que tínhamos
a intuição do que viria em seguida? Um vislumbre, uma pequena luz do que nos
transformaríamos?
Naquele momento, bastava ser
feliz e aproveitar a leveza das nossas vidas nesta cidade de clima rigoroso, do
ar puro, da beleza da paisagem de cedrinhos gentis e perfumados, de araucárias
imponentes e camaradas... da amizade
Na escola, era permitido sonhar
durante a aula na maravilhosa sala de desenho do querido prof. Camargo, o
inesquecível “Camargão”. Sonhávamos enquanto decorávamos a letra de “A Estrela
Dalva”, durante o ensaio da fanfarra sob a batuta do caríssimo e também
inesquecível prof. Guido para o desfile do dia da Independência.
Todos os dias, no fim da tarde, a
rotina de jogar conversa fora, em frente a “Foto” do Carlão.
Aos domingos pela manhã, cantar
uma canção no Clube do Tio Pinheiros na sede do Abernéssia F.C., e após o
almoço pegar a sessão da uma e quinze no cine Glória, depois de passar a semana
ansioso para assistir ao próximo episódio do seriado e, saber se a mocinha
seria cortada ao meio pela serra circular ou seria salva pelo herói no último
momento. Ele sempre conseguia salvá-la...
A comemoração do aniversário não
estaria completa sem o anúncio seguido da canção favorita na Radio Emissora de
Campos do Jordão, “a mais alta do Brasil”.
Às vezes, minha mãe ordenava:
“Mario, vá correndo comprar um zíper azul de 15 cm na loja da dona Maria Nagato
e fala pra ela marcar na conta.”
Para ser aprovado no exame de
admissão ao curso ginasial, tive o privilégio de ter aulas particulares na casa
da profª. Dona Anita e, sem querer, acabei me apaixonando por todas as meninas
da turma.
No ginásio, todos os dias, antes
da aula, tínhamos a obrigação cívica de formar fila, com a distância de um
braço esticado do colega da frente, para cantar o hino nacional. E, levantar-se
quando a diretora, de repente, entrava na classe no meio da aula.
Ao sair da escola, a caminho de
casa, a obrigação era encher o saco da “Marta Rocha”.
Como se esquecer de figuras tão nobres e emblemáticas no meu imaginário pessoal como: o “Mandioca-pão”? a “Violinha”? Ou, “Jacó”, o pintor catalão que escolheu a nossa cidade para viver
durante os anos 70?
Estou certo que cada um de nós
poderia ficar durante horas lembrando incessantemente de histórias, pessoas e
personagens.
Eu, por enquanto, fico com a quadrinha que
aprendi com a profª. Dona Mariinha, aos sete anos, e ela nunca mais saiu da
minha cabeça:
“Upa, upa, upa,
cavalinho alazão.
Sobe morro, desce
morro.
Isto é Campos do
Jordão.”
primavera de 2014
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